Acesso, acessibilidade e comunicação pública organizacional: uma relação desafiadora no IFBA

Autores

Palavras-chave:

Prática cidadã, Inclusão, Comunicação na educação, Comunicação pública

Resumo

Resumo simples

A comunicação pública organizacional proporciona um diálogo entre uma organização/instituição e seu público alvo, de forma transparente e mais próxima dos/as cidadãos/ãs. A forma como ela se materializa nos ambientes educacionais vai influenciar o acesso e a acessibilidade das pessoas. Este artigo tem como proposição a compreensão da relação da comunicação pública organizacional no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) para o acesso e a acessibilidade das pessoas na Instituição e de que forma ela pode interferir nestes processos. A pesquisa classifica-se como exploratória, ancorada na utilização das pesquisas bibliográfica e documental. O acesso e a acessibilidade são conceitos que apresentam significados diferentes e há, em alguns momentos, confusão semântica e de aplicação por parte da sociedade. Em especial, em seus processos de ingresso, o IFBA proporciona aos/às candidatos/as com deficiência atendimento específico, além de respeitar a reserva de vagas. Apresenta também um site oficial adequado às orientações brasileiras quanto à acessibilidade para PcD – Pessoas com Deficiência. No âmbito geral, contudo, precisa de melhor adequação quanto à linguagem de editais e a criação de novas formas de dialogar com a comunidade, através de ferramentas midiáticas mais atuais. 

 

RESUMO EXPANDIDO 

Entendendo a necessidade de ampliação da discussão da comunicação mais efetiva dos Institutos Federais de Ensino Superior (IFES) perante a sociedade, na perspectiva da comunicação pública organizacional, cidadã, inclusiva (termo este estendido à uma amplitude semântica mais geral), este trabalho investigou a relação da comunicação pública organizacional no Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) com o acesso e a acessibilidade das pessoas na Instituição. Foram analisadas as políticas internas de comunicação do IFBA e como são implementadas, apontando a relação desafiadora entre elas, o acesso e a acessibilidade. Para isso, foram resgatados conceitos de acesso, acessibilidade e comunicação pública e mais especificamente, comunicação pública organizacional, com base em Brandão (2006) e Duarte (2007).

Este trabalho utilizou-se da pesquisa bibliográfica e documental visto que, além de ter sido desenvolvido a partir de estudos já conduzidos, também usou, como fonte de obtenção de dados, materiais que não tinham ainda sido analisados (GIL, 2002). Quanto à classificação, a pesquisa é exploratória, uma vez que objetiva “o aprimoramento de ideias” (GIL, 2002, p. 41), se aprofundando do “estudo nos limites de uma realidade específica, buscando antecedentes” (TRIVIÑOS, 1987, p. 109).

Conforme Brandão (2006), a comunicação pública identificada como comunicação organizacional direciona seus trabalhos e estudos para “a análise e a solução de variáveis associadas à comunicação no interior das organizações e entre elas e seu ambiente externo” e tem como característica “tratar a comunicação de forma estratégica e planejada, visando criar relacionamentos com os diversos públicos, bem como construir uma identidade e uma imagem dessas instituições, sejam elas públicas e/ou privadas” (BRANDÃO, 2006, pp 1,2). Já Duarte (2007) ressalta que a comunicação pública  não se reduz à informação, visto que a simples existência da informação não significa necessariamente comunicação eficiente. Assim, a comunicação pública organizacional desempenha papel crucial na promoção da transparência e no envolvimento dos cidadãos, promovendo diálogo entre a organização e o público. No entanto, a efetividade dessa comunicação depende do acesso e da acessibilidade à informação e a participação por parte de diferentes grupos de pessoas.

Quando se trata dos termos acesso e acessibilidade, há necessidade de conceituá-los, já que apresentam significados distintos, como afirma Manzini (2010), sendo comum, em algumas situações, serem utilizados como sinônimos, principalmente quando envolve temas envolvendo a inclusão de Pessoas com Deficiência - PcD. Para ele, a palavra acesso apresenta a ideia de movimento, sair de um lugar ou situação e direcionar-se a outro diferente da posição anterior. Esse lugar ou situação refere-se tanto a um espaço físico quanto a um status social. Já acessibilidade seria um produto concreto do processo de mudança, ou seja, o resultado deste acesso.

Nesse sentido, a Lei Brasileira de Inclusão (LBI) define a acessibilidade no seu Art 3º, inciso I: 

[...] possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida (BRASIL 2015).

Neste contexto, o IFBA, atento às necessidades e demandas do seu público alvo, vem buscando se adequar e desenvolver sua Política de Comunicação, tendo objetivo de melhorar a forma como a Instituição se relaciona com a comunidade externa, através do seu Plano de desenvolvimento Institucional - PDI 2020-2024, aprovado através da Resolução nº 06, de 04 de março de 2020. A Política foca, entre outras metas, a revisão e atualização das formas de comunicação. Reflete-se ainda no Plano de Metas Institucional (PMI), que é uma ferramenta de gestão participativa e transparente, onde se definem e organizam as metas e objetivos de curto prazo, sendo compatibilizado com as políticas do Instituto e com as estratégias contidas no PDI e seguindo as diretrizes do Ministério da Educação (MEC).

Quando se trata de adequação à acessibilidade, o site oficial do IFBA utiliza-se das orientações do e-MAG - Modelo de Acessibilidade em Governo Eletrônico (BRASIL, 2014), que está alinhado às recomendações internacionais, e estabelece padrões de comportamento acessível para sites governamentais. Este modelo foi institucionalizado pela Portaria nº 03, de 07 de maio de 2007.

Quando relaciona-se o termo acesso às instituições de ensino, temos como exemplo prático as ações afirmativas, que significam, na prática, a reserva de vagas tanto para as PcD quanto para outros públicos específicos (baixa renda, estudantes oriundos de escola pública, pessoas negras, quilombolas e indígenas). No IFBA todo o processo de seleção é publicizado, de forma transparente, para toda a comunidade.

Outra forma de ampliar o acesso à educação superior nos campi do IFBA é a oferta de vagas através do Sistema de Seleção Unificada – SISU. As chamadas são publicadas nos canais oficiais, além do encaminhamento de e-mails orientadores para os/as candidatos/as.

As tecnologias voltadas para uma comunicação organizacional que se aproximem mais do público devem ser pesquisadas e adaptadas, desde o uso de uma linguagem mais acessível, simples ao uso de ferramentas midiáticas mais eficazes. Algumas ações podem ser colocadas em prática, tais como: a produção de editais de ingresso que possam, em parte, serem transformados em vídeos curtos, principalmente com os conteúdos que trazem mais dificuldade para os(as) candidatos e seus familiares, tais como documentação; apresentação dos cursos, com suas matrizes curriculares; criação de games que façam com que o público possa ingressar no universo acadêmico e melhor o compreenda, ressaltando o tripé: ensino, pesquisa e extensão.

Acredita-se que este trabalho poderá contribuir na convergência dos estudos da comunicação pública e suas ramificações, entendendo de que forma ela pode influenciar e determinar o acesso e a acessibilidade dos usuários não só do IFBA, mas também dos demais Institutos que compõem a Rede Federal de Ensino.

 

REFERÊNCIAS

BRANDÃO, E. P. Usos e Significados do Conceito Comunicação Pública. In: Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom, 6, 2006, Brasília. Anais da Intercom-UNB 2006. p. 1-14. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/7235102/mod_resource/content/1/Brandao%202006.pdf  Acesso em: 02 jan. 2023.

BRASIL. Lei 13.146, de 06 de julho de 2015, Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência. Brasília: MEC, 2015. 

BRASIL. e-MAG. Modelo de Acessibilidade de Governo Eletrônico. 2014. Disponível em: https://emag.governoeletronico.gov.br/ Acesso em 08 jun. 2023

DUARTE, J. Comunicação Pública: estado, mercado, sociedade e interesse público. São Paulo: Atlas Editora, 2007. 

GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.

INSTITUTO FEDERAL DA BAHIA. Plano de Desenvolvimento Institucional 2020-2024 Disponível em: https://portal.ifba.edu.br/menu-de-apoio/paginas-menu-de-apoio/acesso-rapido/pdi-2020-2024/pdi_ifba2020-2024_web.pdf Acesso em 14 mai. 2023.

INSTITUTO FEDERAL DA BAHIA. Plano de metas institucional. Disponível em: https://portal.ifba.edu.br/prodin/a-prodin/plano-de-metas-institucional Acesso em 14 mai. 2023.

MANZINI, E. J. Acessibilidade: um aporte na legislação para o aprofundamento do tema na área de educação. In: BAPTISTA, C. R; CAIADO, K. R. M; JESUS, D. M. de. (Orgs.). Educação Especial: diálogo e pluralidade. 3ª ed. Porto Alegre: Editora Mediação, 2010. 344p.

TRIVIÑIOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.

Biografia do Autor

Karla Reuter, IFBA

Possui graduação em Serviço Social pela Universidade Católica do Salvador (1992), especialista pela UNOPAR - Gestão Social: Políticas Públicas, Redes e Defesa de Direitos - Área de Conhecimento; Saúde e Bem Estar Social ( 2016 ) e mestranda  no Curso de Mestrado Profissional do Programa de Pós-graduação em Gestão de Políticas Públicas  (PPGGPP) da UFRB. Atualmente é assistente social do IFBA-Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia. Tem experiência na área de Serviço Social e Gestão de Pessoas. Tem interesse em projetos de extensão, que tenham como objetivo, intervenções com a população mais vulnerável, com a utilização de metologias e recursos inovadores. Participação popular e mobilização das comunidades. Trabalhar com a captação de recursos e/ou com Políticas Públicas que possam interferir significativamente para a vida social, bem estar e do trabalho, da camada mais carente da população. Pesquisas que atuem com levantamento de dados e tragam conhecimento para propositura de Políticas Públicas que atuem com: drogas, sexualidade.

Aline Santana, IFBA- Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Bahia

Mestranda no Curso de Mestrado Profissional do Programa de Pós-graduação em Gestão de Políticas Públicas  (PPGGPP) da UFRB. Especialista em Docência do Ensino Superior (2013) e em Atendimento Educacional Especializado e a Psicomotricidade (2015) pela UCESP. Licenciada em Letras com ênfase em LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais, pela UFSC (2010). Possui proficiência em Libras - Língua Portuguesa, para atuação como tradutor e intérprete pelo MEC. Atua como docente titular ministrando a disciplina de Libras no Instituto Federal da Bahia - IFBA campus Simões Filho, Bahia. Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Interiorização da Língua de Sinais - NEPILS da UFAL

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Publicado

2024-01-04

Edição

Seção

ST 13 - Implementação de políticas educacionais e suas conexões com outras políticas, campos e saberes: o que as pesquisas têm revelado?