Construção da avaliação da participação nos Planos Diretores dos Aglomerados Urbanos de Franca e São José dos Campos

Autores

  • Regina Laisner UNESP
  • Julia Navarro Perioto UNESP
  • Paládia de Oliveira Romeiro da Silva Universidade do Vale do Paraíba - UNIVAP
  • André Luiz Pereira Spinieli UNESP

Palavras-chave:

Avaliação, Participação, Planos Diretores, Direito à cidade, Democracia

Resumo

Resumo  simples:

Tendo como referência a perspectiva do direito à cidade, que prevê  a garantia dos direitos espaciais e a recriação das relações de poder, pela ação política e controle democrático da lógica participativa, o projeto referência desta comunicação, ainda em desenvolvimento, como parceria entre três núcleos de pesquisa, tem como objetivo avaliar a participação nos contextos de implementação e revisão dos Planos Diretores de 21 municípios vinculados às aglomerações urbanas de duas regiões do país, dando destaque a este trabalho com municípios de pequeno e médio porte. O propósito específico da comunicação, em consonância com a proposta desta Sessão Temática, é descrever o percurso teórico-metodológico de construção do modelo de avaliação de participação de elaboração/revisão de planos diretores, contribuindo com o debate acerca da possibilidade avaliativa da participação nestes casos, seus desafios e potencialidades, considerados seus múltiplos atores sociais e institucionais enredados neste processo, desde uma perspectiva de democracia efetivamente participativa.

 

 

Resumo expandido : 

A promulgação do Estatuto da Cidade, em 2001, fixou diretrizes e previu diversos instrumentos de regulamentação urbanística para o cumprimento da função social da propriedade e da cidade, exigiu a elaboração do Plano Diretor para municípios com mais de 20 mil habitantes, bem como delimitou o seu conteúdo mínimo e incluiu a previsão da participação da sociedade civil na direção, planejamento, controle e avaliação das políticas públicas nestes processos.  Tais direitos foram conquistados a partir dos movimentos sociais pelos direitos urbanos, que tinham como elemento central da Política Urbana a gestão democrática da cidade, com destaque para a participação que, desde então, tem sido experimentada em diversas cidades brasileiras em algum grau.

Contudo, mesmo com a inserção do tema cada vez mais reforçado e com o reconhecimento de sua potencialidade (BUCCI 2010; FERNANDES 2007), a experiência prática e as pesquisas acerca de tais processos revelam uma série de limites (ROLNIK 2009; MARICATO, 2008), evidenciando a necessidade de se estabelecer um processo participativo que dê conta das particularidades de cada processo.

Tendo como referência a perspectiva do direito à cidade, que prevê  a garantia dos direitos espaciais e a recriação das relações de poder, pela ação política e controle democrático da lógica participativa, o projeto referência desta comunicação tem como objetivo avaliar a participação nos contextos de implementação e revisão dos Planos Diretores de 21 municípios vinculados às aglomerações urbanas de duas regiões do país, colaborando com a literatura acerca da avaliação dos processos participativos. Também se faz importante destacar nele o interesse em descrever e refletir sobre estes processos em municípios de pequeno e médio porte, em geral, pouco explorados nestes tipos de estudos que maximizam olhares sobre os grandes centros e capitais.

A principal questão que se apresenta para a pesquisa em tela é: como avaliar empiricamente a participação nos processos de elaboração e/ou revisão dos planos diretores? Este é o desafio colocado para o Grupo de Pesquisa, à frente de seu desenvolvimento, composto por docentes e discentes de Doutorado, Mestrado e Graduação em Ciência Política, Direito, Sociologia Urbana e Planejamento Urbano e Regional, em um diálogo interdisciplinar, o qual pretende-se expandir para a discussão junto ao GT 16 “Avaliação de Políticas Públicas” no V Encontro Nacional de Ensino e Pesquisa do Campo de Públicas.

Nesta pesquisa, tendo estabelecido o debate acerca do direito da cidade e a relevância do tema da participação como ponto de partida inicial da construção do referencial teórico-metodológico da pesquisa, o passo seguinte estabeleceu-se como sendo o da necessidade de definição do conceito de participação. Tal perspectiva constitui-se como parte integrante de uma visão mais ampla acerca da própria democracia. Neste sentido, os defensores de uma perspectiva de democracia participativa, a qual se vincula esta pesquisa, apresentam suas teses como um contraponto à perspectiva minimalista de democracia representativa. Nela, a participação assume papel central – uma dimensão pedagógica na construção de uma democracia mais ampla. Uma dimensão no sentido de desenvolver capacidades de modo que os indivíduos privados se tornem cidadãos e os seus interesses se refaçam em direção ao bem-comum. Isso não significa a negação da lógica representativa como substrato relevante e constitutivo da democracia.

Desta perspectiva de democracia em tela, depreende-se a definição de participação utilizada na pesquisa que se refere a um acordo entre os indivíduos com sentimentos comuns de reconhecimento e consideração do outro. Mas, para além de uma perspectiva contrária à lógica competitiva, opta-se por uma definição que estabelece uma clara diferença entre participação meramente formal e a participação executada na prática, com incidência comprovada. Nos termos do clássico trabalho de Arnstein (2002), “[...] existe uma diferença fundamental entre passar pelo ritual vazio da participação e dispor de poder real para influenciar os resultados do processo” (p. 2).

A hipótese aventada nesta pesquisa é a de que os processos de elaboração e/ou revisão de Planos Diretores, com melhor qualidade no que concerne à participação, tendem a ser mais transparentes e a publicizar mais evidências da participação e do processo como um todo, sempre em que, de fato, esta participação efetivamente for garantida.

Assim, conhecer este processo com evidências empíricas referidas à lógica de cada local, vinculadas ao contexto da própria localidade, faz-se fundamental para podermos analisar as potencialidades e limites do instrumento do Plano Diretor, dentro do Estatuto da Cidade.

Estas evidências empíricas já estão sendo coletadas a partir do levantamento de documentos públicos vinculados à elaboração dos Planos Diretores nos municípios de interesse e complementadas por entrevistas qualitativas com os principais atores participantes dos processos de elaboração e revisão dos planos diretores que possam gerar informações mais detalhadas do processo. Ambos, documentos e entrevistas, serão analisados a partir do modelo de avaliação que está sendo construído e será tema central desta comunicação.

A previsão das instâncias de participação na “nova ordem jurídico-urbanística” defendida por Fernandes (2007) representou a consolidação da integração entre os representantes eleitos e a população em geral. Neste sentido, o Estatuto da Cidade e as normas construídas ao longo dos anos pelo Conselho das Cidades constituem-se como indicadores que guiarão a análise. Mas, outros critérios e indicadores também serão abordados no trabalho para a construção do modelo avaliativo, sobretudo aqueles apontados por Parés e Castella (2009) para a avaliação dos processos participativos, a saber: o método participativo, os participantes, o processo participativo pela sua coordenação, sua temática e seus resultados. Cada critério, com indicadores próprios a serem considerados, serão descritos com a inclusão das metodologias de acordo com cada caso.

O objetivo da presente proposta é consoante ao objetivo desta Sessão Temática, na medida em que, coloca em debate não só a perspectiva teórica de avaliação de políticas públicas participativas, mas também as questões metodológicas da experiência em andamento de avaliação da participação em Planos Diretores Municipais, considerados seus múltiplos atores sociais e institucionais enredados neste processo. Dessa forma, alcança-se o objetivo da ST de reflexão e debate a partir de avaliações que afirmam os valores democráticos e a participação, articulando interfaces entre a sociedade e a gestão pública no recente contexto político brasileiro.

REFERÊNCIAS

ARNSTEIN, Sherry R. Uma escada da participação cidadã. Revista da Associação Brasileira para o Fortalecimento da Participação – PARTICIPE, Porto Alegre/Santa Cruz do Sul, v. 2, n. 2, p. 4-13, jan. 2002.

BUCCI, Maria Paula Dallari. Gestão democrática da cidade. In: DALLARI, Adilson Abreu;

FERRAZ, Sérgio (org.). Estatuto da Cidade: comentários à lei federal 10.257/2001. São

Paulo: Malheiros, 2010. p. 335-354.

FERNANDES, Edésio. Constructing the “Right to the City” in Brazil. Social & Legal Studies,

Los Angeles, London, New Delhi and Singapore, v. 16, n. 2, p. 201-219, 2007.

MARICATO. Ermínia; SANTOS JÚNIOR. Orlando Alves do. Construindo a política urbana: participação democrática e o direito à cidade. In: Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro; Orlando dos Santos Junior (org.). As metrópoles e a questão social brasileira. 1 ed. Rio de Janeiro: Editora Revan; Fase, 2007, v. 1, p. 165-195.

PARÉS, Marc; CASTELA, Carola. Una propuesta de criterios de calidad democrática para evaluar los procesos participativos. In: PARÉS, Marc (org.). Participación y calidad democrática: evaluando las nuevas formas de democracia participativa. Barcelona: Ariel, 2009. p. 241-267.

ROLNIK, Raquel. Democracia no fio da navalha: limites e possibilidades para a implementação de uma agenda de reforma urbana no Brasil. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, Belo Horizonte, v. 11, n. 2, p.31-50, nov. 2009. Associação Nacional de Pós - Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional (Anpur). Disponível em:https://rbeur.anpur.org.br/rbeur/article/view/219/203. Acesso em 30 jun 2021.

 

 

Biografia do Autor

Julia Navarro Perioto, UNESP

Doutoranda em Direito pela Universidade Estadual Paulista (UNESP Franca), com financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Pesquisadora do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas "Elza Andrade de Oliveira" (NEPPs) onde auxilia a Profa. Dra. Regina Claudia Laisner na coordenação do projeto de pesquisa "Direito à cidade e participação política nos Planos Diretores dos Aglomerados Urbanos de Franca e São José dos Campos no Estado de São Paulo". Mestre em Direito pela Faculdade de Direito de Ribeirão Preto - USP na área de concentração Desenvolvimento no Estado Democrático de Direito, na linha "Desenvolvimento, Democracia e Instituições", onde desenvolveu pesquisa acerca da Participação Popular na Elaboração e Revisão de Planos Diretores, especificamente do processo de revisão do Plano Diretor de Ribeirão Preto, São Paulo. É mediadora e conciliadora formada pelo Instituto Conversações com foco em mediação de equipes. Advogada graduada pela Faculdade de Direito de Franca (FDF).

Paládia de Oliveira Romeiro da Silva, Universidade do Vale do Paraíba - UNIVAP

Doutora em Planejamento Urbano e Regional pela UNIVAP-SP (2018-2022). Mestre em Direito pelo Centro UNISAL-SP (2015). Possui graduação em Direito pelo Centro UNISAL-SP (2006). Pós graduação lato sensu em Direito Ambiental e Gestão Estratégica da Sustentabilidade pela COGEAE/PUC-SP (2012). Professora de disciplinas ligadas ao Direito e à Ética nos cursos de graduação do Centro Universitário Teresa D'ávila - Unifatea-SP. Professora nos cursos de graduação em Direito, Engenharia Ambiental e Engenharia Química da Faculdade de Roseira - FARO. Atuou como professora do curso de graduação em Direito da Faculdade de Ciências Humanas de Cruzeiro - FACIC. Atuou como professora de disciplinas ligadas ao Direito Ambiental nos cursos de Pós Graduação lato sensu em Direito, Gestão Ambiental, Gestão Integrada e Perícia em Meio Ambiente do Centro Unisal, Lorena-SP.

André Luiz Pereira Spinieli, UNESP

Doutorando e Mestre em Direito pelo Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (FCHS) da Universidade Estadual Paulista (UNESP/Franca). Especialista em Direitos Humanos pela Faculdade de Ciências e Tecnologias de Campos Gerais (FACICA/CEI). Especialista em Direito Constitucional pela Faculdade CERS. Bacharel em Filosofia pelo Instituto Agostiniano de Filosofia (IAF/Franca), com aproveitamento de créditos pelo Instituto Santo Tomás de Aquino (ISTA). Licenciado em Filosofia pelo Centro Universitário Claretiano (CEUCLAR/Batatais). Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Franca (FDF). Professor de Tópicos Especiais dos Direitos Fundamentais na Universidade Estadual Paulista (UNESP/Franca). Professor de História da Filosofia no Instituto Agostiniano de Filosofia (IAF/Franca). Pesquisador do Laboratório de Estudos e Pesquisas Avançadas em Direito Internacional Ambiental (LEPADIA/UFRJ). Pesquisador e Coordenador da linha "Direitos Humanos no Sistema Internacional" do Observatório de Direitos Humanos e Direitos Fundamentais (ODHDF/UCAM). Pesquisador do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPPs/UNESP). Editor-Adjunto da Inter - Revista de Direito Internacional e Direitos Humanos da UFRJ. Advogado (OAB/SP 425.089). Pesquisador nas áreas de direitos humanos, cidadania, inclusão social e história da filosofia, com ênfase em direitos das pessoas com deficiência, direitos sociais, proteção jurídica de grupos vulneráveis e filosofia contemporânea. 

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Publicado

2024-01-04

Edição

Seção

ST 16 - Avaliação de Políticas Públicas