Políticas sociais e demandas por reconhecimento: tensões frente ao neoconservadorismo
Palavras-chave:
Política Social, Teoria Política, Serviço SocialResumo
Resumo simples:
O presente trabalho é um ensaio teórico resultante dos trabalhos finais construídos para duas matérias do mestrado acadêmico em Serviço Social. Sendo elas: Teoria Política Contemporânea e Política Social e Serviço Social. Preocupa-se com o resgate da história social que perpassa a Política Social, embasando-se em instrumentos teórico-metodológicos de exposição do que consta na literatura enquanto conquistas e contratos sociais buscando uma mediação com o contexto contemporâneo da sociedade brasileira, sendo a sua Constituição de 1988 representada na figura de um contrato social tardio e que teceu elementos para o acordo da Proteção Social brasileira construída nas décadas subsequentes. Por último, serão postas breves análises sobre assuntos que se apresentam como desafios vigentes para o que se tem hoje enquanto Proteção Social no Brasil.
Resumo expandido:
O presente texto apresenta-se como um ensaio de reflexões teóricas aprimoradas que foram iniciadas na realização de duas matérias de mestrado acadêmico em Serviço Social, sendo elas: Política Social e Teoria Política Contemporânea. Inquietações que resultaram no exercício de se pensar o papel das Políticas Sociais brasileiras em um Estado recém mitigado por uma pandemia e por uma gestão federal (concomitante a esta crise sanitária, da COVID-19) aa qual adensou e trouxe novos elementos a crise social, econômica e política iniciada há uma década, tendo como registro de tempo as Jornadas de Junho de 2013 e o seu caráter antissistema (Nobre, 2022). Portanto, trata-se de uma revisão bibliográfica da literatura acadêmica que disserta a respeito das políticas sociais/proteção social brasileira e da conjuntura política contemporânea. Entendendo que há eixos que se cruzam entre estas duas categorias, as mediações serão feitas.
Sendo o Serviço Social uma categoria composta por profissionais que se inserem no interior das instituições que elaboram, coordenam, avaliam, executam e implementam a Política Social, faz-se extremamente necessário debruçar-se sobre o estudo das origens e debates recentes que tangenciam esta Política. Procura-se estabelecer neste trabalho a Constituição Federal de 1988 como um norte das Políticas Sociais brasileiras, devido ao fato da Seguridade Social afirmar em seus escritos os direitos previdenciários, de saúde e da assistência social. Mas não somente, situando o debate no olhar aos subalternos, esta Constituição apresenta em seu artigo 6º um arcabouço legal que visava atender, mesmo que num período de recessão econômica da década de 1980 e crise do Welfare State no capitalismo central, conquistas democráticas advindas de reivindicações sociais (Behring, Boschetti, 2011).
Portanto, tendo a Carta de 1988 sendo conhecida como a “Constituição Cidadã”, para além de registrar um marco jurídico, importante para o Direito, aqui este período se faz presente pela sua expressão democrática e de mobilização que propiciaram a emergência de se pensar a Proteção Social no Brasil.
Os Contratualistas ao longo da modernidade inspiraram de forma teórica-filosófica a construção dos projetos de sociedades, dos direitos e deveres dos homens. Ao passo em que suas ideias foram sendo absorvidas por diferentes países e em contextos sociopolíticos, geográficos e culturais divergentes e desiguais, embates deste modelo de Contrato Social liberal, firmado por Locke (Châtelet, 1985) e acrescido pela contribuição sobre a Lei de Montesquieu (Weffort, 2011), passa a ser percebido, principalmente ao analisarmos as últimas décadas do Século XXI com uma onda neoconservadora, próximas das teorizações do conservadorismo que Edmund Burke (Jamerson, 2016) debruçou-se a teorizar.
Em 2023, o neoconservadorismo que está em voga no Brasil, afasta-se da matriz de Burke (Souza, 2016), embora com características similares, como é o fato da ótica religiosa radical apropriada para o debate da vida política, sob forças evangélicas em ascensão e com bases estabelecidas no Brasil das últimas décadas e demais movimentos inspirados por modelos estadunidenses de movimentos políticos e sociais, como o trumpismo. Portanto, é localizada uma disputa de projetos societários de se pensar a sociedade brasileira.
Afastando-se de uma comparação óbvia e anacrônica, é tratado aqui o contexto da pandemia de COVID-19 que causou a maior crise sanitária da história recente com o vírus da Covid-19, e que trouxe à tona o que Antunes (2022) afirma como o metabolismo antissocial do capitalismo, já que as medidas de mitigação do vírus em muitas vezes não eram viáveis de ser executadas devido a falta de acesso à água, por exemplo. Até mesmo questões habitacionais emergiram, como a inexistência de um lar, para que se cumprisse a necessária quarentena. Tais elementos sociais e econômicos são suportes importantes para serem considerados na análise do que se pensava ser um Contrato Social brasileiro e como ele está nesta fase que surge na redemocratização dos anos 1980.
Os objetivos deste trabalho buscam uma mediação de fenômenos sociais postos no Brasil desde 2013 e a ascensão do neoconservadorismo como sendo elementos importantes para analisar o papel da Proteção Social brasileira que atende diretamente os sujeitos mais precarizados, como é o caso específico dos que acessam a Política de Assistência Social, em que seu público majoritário ou está na informalidade, ou está sem uma ocupação laboral com seguridade. Portanto, objetiva-se: identificar a emergência da Política Social brasileira enquanto um contrato social tardio. Ainda, apresentar o contexto político-social desde as jornadas de junho de 2013 como sendo um marco que aponta um rompimento da coesão entre Estado e sociedade civil erguido na Constituição de 1988.
Como resultados busca-se o entendimento do sentido social da Política Social/Proteção Social brasileira na segunda década do século XXI frente aos movimentos de ascensão do neoconservadorismo, tensões religiosas protagonizadas por setores evangélicos e o crescimento das conquistas sociais e em direitos como o das pessoas racializadas e a população LGBTQIA+. Trazendo então um olhar interseccional e decolonial sobre o cenário brasileiro.
Em um país com índices de insegurança alimentar atingindo pelo menos metade da população, como aponta o dado levantado pelo 2º Inquérito Nacional sobre Segurança Alimentar da Rede Penssan no qual aponta que apenas 41% da população brasileira possuía segurança alimentar entre 2021 e 2022, os estudiosos e profissionais das políticas sociais precisam apropriar-se da conjuntura política, pois, os debates econômicos e os tratados como apenas “pautas de costumes” auxiliam no entendimento de que público é este que está acessando a Proteção Social brasileira e qual é a resposta viável que será dada frente às demandas de milhares de brasileiros, usuários da Proteção Social. Dito isto, refletir acerca do desenvolvimento e concepção das políticas públicas no Estado é um exercício de suma importância, sobretudo na realidade brasileira em que as políticas sociais apresentam uma relação intrínseca já em sua gênese com a exclusão da população com marcadores interseccionais e com o racismo operante na sociedade (Ferreira, 2020).
Referências:
ANTUNES, Ricardo. Capitalismo Pandêmico. 1ª Ed. São Paulo : Boitempo, 2022.
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WEFFORT, Francisco C. (org) Os Clássicos da Política - Coleção Fundamentos - Vol 1 Versão digital. São Paulo, 2011.